Na pequena cidade de Ivirgarzama, na Bolívia, ocorreu um acontecimento angustiante que lançou luz sobre a dura realidade da justiça comunitária em áreas onde a aplicação da lei estatal é mínima.
Uma multidão amarrou três homens seminus a palmeiras na praça principal da cidade. As autoridades acusaram-nos de raptos de crianças, destacando o problema de longa data na região.
A multidão sujeitou estes homens a espancamentos e abusos verbais. Por fim, um dos homens foi encharcado de gasolina e incendiado, enquanto os outros dois foram espancados até a morte fora da cidade.
Este ato violento de justiça vigilante destaca uma questão social mais ampla que prevalece em certas áreas rurais da Bolívia.
A região do Chapare, conhecida pelas suas plantações de coca e por ser berço de figuras políticas como o ex-presidente Evo Morales, é uma das áreas rurais economicamente mais ricas da Bolívia devido ao comércio de coca.
No entanto, há também uma falta significativa de presença policial, com cerca de 25 agentes para uma população de cerca de 400.000 habitantes.
Esta escassez deve-se em parte às decisões políticas do Movimento para o Socialismo (MAS) de permitir a auto-regulação comunitária, muitas vezes estendendo-se a domínios de práticas ilegais.
O incidente em Ivirgarzama não é isolado. A Bolívia testemunhou quase 200 casos de linchamento entre 2005 e 2011.
Este fenómeno resulta frequentemente de instituições estatais fracas e de uma cultura comunitária que por vezes faz justiça com as próprias mãos.
Além disso, isso é muitas vezes comunicado através de símbolos como bonecos de pano pendurados em postes de luz.
As tendências da justiça vigilante levantam questões sobre o equilíbrio entre a auto-regulação comunitária e uma governação estatal eficaz.
O governo condenou os recentes acontecimentos em Ivirgarzama, o que levou a uma investigação.
No entanto, esta investigação enfrenta um “pacto de silêncio”, complicando os esforços para levar os responsáveis à justiça.