A Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (ADNOC) não está mais interessada em comprar o controle acionário da Novonor na gigante petroquímica brasileira Braskem. Desde que a decisão foi tornada pública, o preço das ações da Braskem despencou quase 15%.

A retirada da ADNOC do acordo ocorre após longas negociações e due diligence na Braskem. Inicialmente, a empresa do Golfo fez uma proposta de compra em conjunto com a gestora norte-americana Apollo, há um ano. Em Novembro, a ADNOC – desta vez sem a Apollo – reiterou a sua proposta com uma oferta não vinculativa, dizendo que pagaria 10,5 mil milhões de reais (2,1 mil milhões de dólares) para controlar a maior empresa petroquímica da América Latina. Agora, ele desistiu do acordo.

A Novonor é um grupo de infraestrutura anteriormente conhecido como Odebrecht. Antes superando os concorrentes, a Odebrecht esteve no centro do maior escândalo de corrupção da história brasileira, descoberto pela operação de força-tarefa anticorrupção, Operação Lava Jato, que durou anos. A Novonor detém atualmente 50,1% das ações ordinárias da Braskem e 38,2% de seu capital total. . A venda da sua participação na petroquímica seria fundamental para a sua recuperação financeira.

Apesar de ser a maior empresa petroquímica da América Latina, a Braskem enfrenta enormes responsabilidades, começando com uma tragédia ambiental no Nordeste do Brasil causada por práticas abusivas de mineração de sal. Como O Relatório Brasileiro mostrou em uma investigação aprofundada premiada em 2021, a mineração de sal da Braskem desestabilizou as cavernas subterrâneas sob cinco bairros de Maceió, capital do estado de Alagoas, levando ao colapso de edifícios e forçando mais de 60 mil pessoas a deixarem suas casas e empresas desde 2018.

Nesse mesmo ano, a Braskem encerrou suas atividades e passou a acompanhar de perto o fechamento e a estabilização de suas 35 minas na região da Lagoa Mundaú – que já foi foco de pesca e um dos atrativos turísticos da cidade – enquanto tentava chegar a um acordo com governos federais e Ministério Público estadual para indenizar as populações atingidas, bem como o município de Maceió.

Um primeiro acordo foi alcançado no início de 2020 com os Ministérios Públicos federais e estaduais e as Defensorias Públicas federais e estaduais para indenizar a cidade e as famílias afetadas.

No entanto, o caso está longe de ser concluído. No ano passado, a empresa assinou um aditivo de R$ 1,7 bilhão ao acordo com a prefeitura de Maceió em compensação por subsidência de terras e foi condenada pela Justiça local a pagar uma compensação financeira ao estado de Alagoas. Os Ministérios Público Federal e Estadual têm tentado ampliar a área afetada e, consequentemente, as indenizações devidas pela empresa.

A tragédia de Maceió também é alvo de inquérito do Congresso lançado em março.

Além da ADNOC, a Unipar, produtora de produtos químicos com sede em São Paulo, e a J&F Investimentos, holding que controla o maior produtor de carnes do Brasil, também se ofereceram para comprar o controle da Braskem.

Jean Paul Prates, presidente-executivo da petrolífera Petrobras – que tem direito de preferência nesta transação, pois detém uma participação minoritária de 36,1 por cento na empresa – disse no mês passado que está em busca de “novos sócios” para compartilhar a gestão da Braskem, sinalizando que não há pressa em fechar um acordo.

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