Poucos eventos históricos geraram tantas grandes obras de arte quanto a Segunda Guerra Mundialsuas causas e suas ramificações. “O Diário de Anne Frank”, “O Túmulo dos Vagalumes”, “É isto um homem?”, “Abrigos no Tubo”, “Vá e Veja”, “Além da Linha Vermelha”, “Maus”… a lista é interminável, e cito aqui apenas algumas das que mais me comoveram ao longo da vida.

Se você perguntar o que torna cada uma dessas criações especiais, eu lhe digo: é a capacidade delas de extrair — do horror, da violência, da crueldade, da falta de esperança, da morte, mas também da união, da força de vontade, da empatia e da experiência — algo além, algo transcendental sobre a própria experiência do ser humano. Registros históricos puramente factuais também são importantes, claro, até para que não nos esqueçamos e não repitamos o que se passou, mas aqui estou me referindo a arte — e arte precisa se conectar aos nossos sentimentos e às nossas angústias de uma maneira mais espiritual do que intelectual.

Tudo isso nos leva a uma certa minissérie, chamada “Banda de irmãos”, que meio que revolucionou a televisão lá nos idos de 2001, quando foi lançada pela HBO. Produzido por um trio de peso — Tom Hanks, Gary Goetzman e Steven Spielbergque, poucos anos antes, ganhou seu segundo Oscar por “O Resgate do Soldado Ryan”também considerado um dos grandes filmes sobre a 2ª Guerra —, “Banda de irmãos” fez parte de um grupo selecionado de produções televisivas (“Anjos na América”, “A Ala Oeste” e “O Fio” também fazem parte desta turma) que, na virada do século, mostrou que a TV também poderia produzir obras de arte do mesmo calibre do cinema.

Muito eu pessoalmente não coloco “Banda de irmãos” no nível das obras que citei no primeiro parágrafo, é inegável que a minissérie trouxe algo novo ao panteão das narrativas sobre a 2ª Guerra, com sua pegada realista (baseado no livro documental homônimo de Stephen E. Ambrose) e o foco na camaradagem dos soldados da Companhia Easy, que participaram de eventos como a invasão da Normandia e a Batalha das Ardenas.

Nove anos depois, a HBO reuniu-se com Hanks, Spielberg e Goetzman para produzir uma “sequência espiritual” de “Banda de irmãos”chamada “O Pacífico”. Embora a narrativa fosse diferente, mais uma vez tivemos aqui a adaptação de uma história real, desta vez centrada nas movimentações do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA na Guerra do Pacífico. Assim como seu antecessor, “O Pacífico” também foi recebido com louros, rapidamente conquistando seu lugar na lista de boas obras sobre a 2ª Guerra.

Tudo isso nos traz a “Mestres do Ar” (ou “Mestres do Ar”, na tradução em português), nova minissérie que completa a “trilogia espiritual” produzida por Spielberg, Hanks e Goetzman — agora não nas mãos da HBO, e sim financiada pelo cofrinho sem fundo do AppleTV+.

Baseada não livro homônimo de Donald L. Millera nova minissérie da Apple volta suas atenções para a Oitava Frota Aérea do Exército dos EUA, com um foco muito mais contundente nos combates aéreos e nos bombardeiros que atacaram a Alemanha nazista — e que, segundo os documentos históricos, tiveram um papel fundamental na Vitória dos Aliados.

O centro emocional da série é uma amizade entre duas majores, Gale “Buck” Cleven (Austin Mordomoainda com algumas dicas de Elvis Presley) e John “Bucky” Egan (Callum Turner). Mas a produção, assim como suas antecessoras, também se aproveita de um numeroso elenco para traçar várias histórias ao longo do caminho, com nomes como Antonio Boyle, Barry Keoghan, Ncuti Gatwa e Bel Powley. Todos eles tratam o material histórico com um notável respeito — a ponto de, por vezes, a série soar solene demais, distante demais, em detrimento de uma humanização mais envolvente dos personagens.

Tecnicamente, não há o que falar sobre qualidades “Mestres do Ar”: como já é tradição na trilogia, a minissérie preza por uma recriação meticulosa dos lugares, dos instrumentos e das intempéries enfrentadas por seus personagens. As cenas de batalha nas ares são impressionantes, dando uma sensação real de perigo — um mérito combinado da edição e do design de produção, que transmitem a ideia de que aqueles aviões são muito mais frágeis do que parecem, especialmente quando estão em meio a uma rajada de balas.

Por outro lado, o roteiro de John Orloff (que escreveu alguns episódios de “Banda de irmãos”) é claudicante: por vezes, ele coloca breves monólogos filosóficos na boca de seus personagens, mas nunca de fato explora suas psiquês, angústias ou traumas — é como se, a cada dez páginas de diálogo e sequências de acontecimentos, Orloff se lembrasse que está criando uma narrativa sobre guerras e precisa fazer com que as figuras em cena tenham dúvidas morais ou demonstrem algum tipo de sentimento para além do que vendemos no texto.

Isso acaba deixando uma impressão de pouca naturalidade, além de comprometer o (já deficiente) desenvolvimento dos personagens ao longo da narrativa. Ao optar por um retrato histórico fiel, “Mestres do Ar” acaba de cair nos mesmos erros de “Napoleão” (muito embora em estilo, tom e cenários muito diferentes, por óbvio), abrindo mão da conexão mais profunda que pensamos ter com aqueles personagens.

Além disso, um pecado cometido pela minissérie — e que não foi visto em “Banda de irmãos” ou eles “O Pacífico” — é a impressão de, a certo ponto, começar a se repetir em temas, cenários e conflitos. Até mesmo as cenas de batalhas aéreas começam a cansar depois de um certo momento, sem as opções permitidas para despertar o espectador — e, aqui, eu reconheço que é mais criar variações desses combates do que nas minisséries anteriores, que focavam mais difíceis em batalhas em terra ou no oceano.

No fim das contas, a pergunta que faço nesse título nunca é respondida satisfatoriamente por “Mestres do Ar”. Mas eu a respondo: sim, ainda precisamos de histórias da 2ª Guerra, assim como precisamos de quaisquer histórias que possam revelar um pouco mais da nossa natureza e dos nossos conflitos. Mas a minissérie da Apple parece preocupada em atingir esses níveis mais complexos de discurso — e, por isso, acaba sendo, mesmo com todos os méritos, o elo mais fraco da trilogia que encerra.

O Apple TV+ está disponível no app Apple TV em mais de 100 países e regiões, seja em iPhones, iPads, Apple TVs, Macs, smart TVs ou online — além também estar em aparelhos como Roku, Amazon Fire TV, Chromecast com Google TV, consoles PlayStation e Xbox. O serviço creme R$ 21,90 por mês, com um período de teste gratuito de sete dias. Por tempo limitado, quem comprar e ativar um novo iPhone, iPad, Apple TV, Mac ou iPod touch ganha três meses de Apple TV+. Ele também faz parte do pacote de assinaturas da empresa, o maçã um.


Ícone do aplicativo Apple TV
Apple TV de Maçã

Versão 1,8 (790,5KB)
Solicite o iOS 10.2 ou superior

NOTA DE TRANSPARÊNCIA: O MacMagazine recebe uma pequena comissão sobre vendas concluídas por meio de links deste post, mas você, como consumidor, não paga nada mais pelos produtos comprando pelos nossos links de afiliados.

By admin

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *