“Eles ficam em sofrimento, no desconforto, em vulnerabilidade e expostos a riscos sérios”, diz denúncia
O momento após o parto proporciona tranquilidade e algum descanso, além de medidas que protejam mães e bebês de possíveis riscos. Mas isso não está sendo garantido às mães e recém-nascidos no Humap (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian), no HU de Campo Campo Grande.
Na noite desta segunda-feira (8), vídeos enviados pelo servidor da instituição pública mostram recém-paridas sentadas em cadeiras de plástico com bebês nascidos há poucas horas no colo (assista acima).
Por causa da superlotação, o jeito é se acomodar ali ou em macas improvisadas no corredor da maternidade e do centro obstétrico, onde são feitos os partos. “Eles ficam em sofrimento, no desconforto, em vulnerabilidade e expostos a riscos sérios”, diz o denunciante sobre os pacientes.
O perigo de contrair uma infecção é maior no corredor, onde “todo tipo de pessoa circula”, destaca o servidor, que prefere não ser identificado.
Fora isso, devido ao pouco espaço e estarem se recuperando dos partos, seja o natural ou o cirúrgico, as mulheres podem até derrubar os filhos, sem querer. “Se um bebê cai, pode ter um traumatismo craniano e morrer”, alerta também.
Não fosse o bastante, pois as mães ainda precisam lidar com constrangimentos.
“Enquanto estão amamentando em cadeiras desconfortáveis, elas sangram, sujam a roupa e não têm onde se trocar e tomar um banho de imediato. Já vi mulheres todas ensaguentadas, morrendo de vergonha, que ainda estão sem acompanhantes”, relata ainda o servidor.
Esperando há 1 dia – Jovem de 21 anos que também optou em não se identificar, relatou à reportagem a demora para passar por cirurgia cesariana. Ela está no hospital desde as 8h de ontem (8), completando 24 horas de espera nesta manhã.
A gestante aguarda numa cadeira de fio. “Já me deram muitas desculpas. Que não tinha leito e não tinha como me operar e deixar na cadeira de fio no corredor. Que o centro obstétrico estava sobrecarregado por conta de cirurgias de emergência”, cita.
A mulher tem problema de saúde que poderia gerar complicação num parto normal, por isso, o mais indicado no caso é o parto cirúrgico.
Ela ficou em jejum desde o almoço de domingo (7) até a entrada na instituição. Se alimentou, mas um pouco, desde que a cirurgia foi adiada. “Como eles não fizeram o parto ontem, me deram um pão e um copo de chá às 21h de ontem para reiniciar o jejum total às 0h”, conta. A previsão é a cesariana ocorrer hoje, às 13h.
Faltam profissionais – O caos acaba agravado pela falta de profissionais para atender tantas pessoas. “Todos se desdobraram, mas teve um dia que um bebê precisava de atendimento de urgência e não tinha médico plantonista para atender e nem leito neonatal. O que tinha era um obstetra que estava fazendo uma cirurgia”, continua contando o servidor.
No vídeo, é possível ver profissionais de saúde se espremendo nos corredores, ao lado dos equipamentos, para atender mulheres e bebês. Isso porque é preciso atender quem está dentro dos quartos, em leitos e macas.
Toda essa situação é “rotina há muito tempo” no Humap, finaliza o denunciante. “Estamos cansados de ver isso. Só vai chegando gente, chegando gente e o hospital não dá conta de atender”, desabafa.
Vagas – No início deste ano, a instituição deixou de receber pacientes “vaga zero”, ou seja, aqueles encaminhados pela central de regulação da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), independentemente da unidade hospitalar ter condições de atendê-los.
Ainda assim, os setores que recebem mães e bebês seguem lidando com o excesso de demanda.
Em nota, uma assessoria de imprensa da instituição admitiu que está enfrentando situação de superlotação na maternidade, centro obstétrico e sala de pré-parto desde quinta-feira da semana passada (4).
Ontem, havia cinco recém-nascidos internados, sendo três necessitando de cuidados intensivos e dois necessitando de cuidados intermediários. Nas mulheres, havia 18 no pré-parto, sendo oito pacientes em leitos extras.
Outros 36 pacientes foram alojados na enfermaria da maternidade em alojamento conjunto, para tratamento clínico e cirúrgico, obstétrico e ginecológico. Dessas, seis foram colocadas em leitos extras. As informações foram fornecidas pelo próprio hospital.
O MPMS (Ministério Público Estadual) e a Sesau foram acionados com urgência, para cessarem autorização para encaminhar mais pessoas.
“A direção do Humap enviou ontem no final da tarde à Central de Regulação, à Secretaria Municipal de Saúde e ao Ministério Público informando a situação e solicitando que não sejam encaminhadas novos pacientes pelo prazo de 24 horas para que a situação possa ser normalizada. A situação de superlotação na Maternidade tem sido comunicada à Central de Regulação diariamente, desde a última quinta-feira (4), no entanto, novos pacientes continuam sendo encaminhadas pela Regulação como Vaga Zero”, conclui a nota.
Leitos- Em Campo Grande, segundo dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde do DataSUS, a Capital tinha 137 leitos obstétricos até fevereiro deste ano. Eles ficam em instituições públicas como o Humap, o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul e também em filantrópicas como a Santa Casa e privadas como a Maternidade Cândido Mariano.
Questionada sobre a falta de leitos disponíveis em demais hospitais e a consequente superlotação do HU, mesmo a instituição não podendo mais receber “vaga zero”, a Sesau não retornou até o fechamento desta publicação. O espaço segue aberto.
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