Não se trata de negar os problemas e desafios ambientais que o Brasil enfrenta — que são mundialmente conhecidos — mas de contar histórias sobre como diferentes indústrias e empresas, seguindo as melhores práticas ESG disponíveis, conseguiram construir negócios sustentáveis ​​e prósperos “porque” foram instaladas no Brasil. Essa é a ideia principal do Brasil Climate Summit Europe, um spin-off da conferência realizada em Nova York desde 2022, que acontecerá no dia 27 de maio em Paris.

“O objetivo é promover o país como um centro de soluções de baixo carbono, para trazer à tona o potencial do país sem esconder os seus problemas. (Isso é necessário porque) o que vemos hoje é que as dificuldades são mais conhecidas do que os pontos fortes do país”, diz Jorge Hargrave, diretor da Maraé Investimentos — family office de Guilherme Leal, cofundador da gigante de cosméticos Natura — e um dos os organizadores do evento em Nova York e agora em Paris.

Muitas mãos estão envolvidas na organização da Brazil Climate Summit Europe, também conhecida como BCS Europe. Será realizado no Insead, uma das escolas de negócios mais proeminentes da Europa, já que o grupo que o organiza é formado por ex-alunos e atuais alunos da instituição.

Além do próprio Insead, a conferência conta com o apoio da HEC Paris, outra escola de negócios, da Embaixada do Brasil na França, da Câmara de Comércio França Brasil (CCIFB), da Câmara de Comércio Brasileira na França (CCBF), da agência de promoção de exportações do Brasil ApexBrasil e o Boston Consulting Group (BCG), entre outros parceiros estratégicos. O Relatório Brasileiro é um parceiro de mídia da iniciativa.

Muito menor que o evento nos EUA, organizado pela Universidade de Columbia para mais de 500 pessoas no ano passado, a conferência europeia acontecerá na Maison de l’Amérique Latine para pouco mais de 100 convidados — a organização está selecionando cuidadosamente os participantes deste primeira edição apenas para convidados do evento. “Além dos palestrantes e investidores com atuação no Brasil que estarão nos painéis, pretendemos ter mais de 80% dos participantes provenientes de organizações sediadas na Europa.

Todos os maiores bancos franceses estarão lá, por exemplo. Isto é crucial para alcançar o nosso segundo objetivo, que é promover parcerias entre os ecossistemas empresariais dos países”, sublinha o Sr. Hargrave.

Ter palestrantes brasileiros ao lado de investidores europeus que já fizeram negócios no Brasil também foi algo planejado para o evento. “O BCS Europe está sendo construído com base no diálogo e na colaboração, portanto, ter uma perspectiva interna e externa em cada um dos painéis, explicando por que escolheram o Brasil, será fundamental”, diz o Sr.

A sessão de abertura do evento, “Por que Brasil? Aproveitando o potencial climático do Brasil”, por exemplo, contará com a participação de Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente do Brasil, e Laurence Tubiana, CEO da Fundação Europeia para o Clima e um dos principais arquitetos do histórico Acordo de Paris, lado a lado.

Casos de empresas como a fabricante de cosméticos Natura, a fabricante de chocolates Dengo e a A10 Invest – que detém 46% da mineradora Sigma Lithium – também estarão entre as principais atrações da conferência, pois são exemplos práticos do Brasil como um centro de soluções climáticas.

“Concebemos a A10 Invest, uma empresa de investimento de impacto, há quase 12 anos, quando ESG ainda não existia. O que vou mostrar é que eu, como patrocinador financeiro, investindo em um negócio com componente altamente poluente, que é a mineração, ajudei a criar um negócio global altamente rentável no Brasil, que também é o primeiro do setor a nascer líquido zero”, diz Marcelo Paiva, cofundador da A10 Invest e copresidente da Sigma Lithium.

A planta da Sigma, localizada no Projeto Grota do Cirilo, em Araçuaí e Itinga, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, estava em fase pré-operacional quando ocorreu o rompimento da barragem da Samarco em Mariana, em 2015. O sector mineiro enfrentava dificuldades no financiamento de novos projectos depois da tragédia ter matado 19 pessoas e causado danos ambientais incalculáveis.

“Mas, como investidores de impacto, também temos de lidar com os setores primários; eles não podem ser evitados. O que podemos fazer é seguir as melhores práticas possíveis e torná-las melhores”, afirma Paiva. O Vale do Jequitinhonha é onde estão localizadas 85% das reservas conhecidas de lítio do Brasil, um elemento-chave na produção de baterias para veículos elétricos.

A A10 Invest decidiu, por exemplo, que só trabalharia com zero rejeitos, ou seja, não teria barragens de rejeitos no local. Em vez disso, os rejeitos da Sigma são empilhados a seco e utilizados para a recuperação de resíduos minerais, tornando-a uma operação ecologicamente correta. O processo de produção do seu “lítio verde” não envolve agentes químicos e a água utilizada no seu processo de purificação é reciclável.

“Essas características da atuação da Sigma no Brasil vieram de decisões não tão óbvias do ponto de vista financeiro tradicional. Alguns deles reduziram a área de exploração da empresa, por exemplo, à preservação do meio ambiente, mais especificamente de um rio que passa pela usina, mas que contribuiu para a sustentabilidade e baixo impacto da operação no médio e longo prazo”, destaca Sr. Paiva, acrescentando que, como investidor de impacto, o seu objetivo é “repetir” o sucesso da Sigma nos próximos negócios da A10 Invest.

Os últimos desenvolvimentos dos aspectos regulatórios ligados à preservação ambiental e ao financiamento empresarial de baixo carbono também serão uma parte importante da Cúpula do Clima Brasil Europa. Para Hargrave, o lançamento esta semana da primeira etapa prática de um programa de hedge cambial, intitulado Eco Invest Brasil, para proteger investidores de projetos sustentáveis ​​no Brasil do risco de flutuações cambiais, é um bom exemplo de como tanto o governo quanto o o ecossistema empresarial está a unir-se para encontrar as soluções regulamentares necessárias.

“Lembro-me de Mark Wiseman, um financista canadense que atualmente é presidente da Alberta Investment Management Corporation, e também foi CEO do Canada Pension Plan Investment Board e gerente da BlackRock, dizendo durante a primeira Cúpula do Clima no Brasil em Nova York: que os riscos cambiais estavam entre as coisas com as quais o Brasil teve que lidar para atrair mais investidores estrangeiros. Bom, agora temos uma resposta prática para ele”, afirma Paiva.

A ideia, anunciada em fevereiro durante reunião de ministros da Fazenda do G20 em São Paulo, ganhou decreto presidencial esta semana.

O Ministério da Fazenda e o Conselho Monetário Nacional (CMN) já definem regras para a operacionalização do programa, que, entre outras coisas, terá como intermediário o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), alavancando seu rating AAA para contratar hedge proteção de um banco internacional em melhores condições e transferência desta vantagem para instituições locais que financiam projetos green field.

O banco pretende utilizar até US$ 3,4 bilhões para isso.

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