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Diretores da ‘Transformação de Canuto’ sobre Histórias Indígenas

Foi preciso diretor Ariel Kuaray Ortega quase duas décadas para poder contar uma história que ouviu durante toda a vida: a estranha história de Canuto, um homem que misteriosamente se transformou em onça e depois teve uma morte trágica. O filme resultante, “A Transformação de Canuto”, teve sua estreia mundial no Festival Internacional de Documentários de Amsterdã, onde recebeu o prêmio de melhor filme na Competição Envision e o prêmio de contribuição artística de destaque.

O filme, co-dirigido com o parceiro criativo de longa data de Ortega Ernesto de Carvalhomistura documentário e uma reconstituição da história de Canuto com todos os papéis desempenhados por moradores de uma comunidade Mbyá-Guaraní aninhada na fronteira entre o Brasil e a Argentina.

Falando exclusivamente com a Variety antes da estreia mundial do filme no festival, Ortega disse: “Quando contei esta história a Ernesto pela primeira vez em 2009, não sabia o formato que queria para este filme. Continuamos mudando porque não tínhamos certeza de como a população local receberia estranhos na aldeia. Também não tínhamos muitos recursos para reencenar a história com atores, então tivemos que trabalhar com o que tínhamos.”

Carvalho conhece bem as complexidades de colaborar criativamente com tribos indígenas, tendo trabalhado com Vídeo nas Aldeias, uma ONG cultural bem estabelecida que capacita contadores de histórias indígenas por meio de oficinas de produção de filmes, desde 2007.

“Não é educação em si, é uma metodologia”, disse o diretor de trabalhos da organização. “Estamos imersos nestas comunidades durante longos períodos de tempo e nunca exigimos que os participantes deixem as suas aldeias para irem à cidade. É um processo cotidiano de mesclar o cinema com a rotina local. Os filmes que realizamos circularam em festivais, foram exibidos na televisão e funcionaram como uma janela para a realidade indígena no Brasil.”

“Quando começamos a fazer esse trabalho, a expressão Cinema Indígena ainda não estava consolidada. Hoje, não é apenas uma coisa, mas uma referência e um exemplo seguido por outros na América Latina e em todo o mundo”, acrescentou Carvalho sobre o trabalho do Vídeo nas Aldeias, com Ortega intervindo para elogiar a ONG e sublinhando como as pessoas muitas vezes “romantizam Cinema Indígena.”

“Somos muitas tribos, fazendo muitos tipos de cinema. Só porque sou Guarani, as pessoas esperam que eu faça filmes sobre as belezas da terra, a nossa música, os intrincados cocares… Há uma expectativa de que vou me esquivar dos problemas reais que enfrentamos, incluindo as disputas territoriais. Meu cinema sempre foi político, sempre foi sobre a realidade indígena.”

“Minha relação com Ernesto não é apenas como aluno-professor”, acrescentou Ortega quando questionado sobre a importância das vozes indígenas e como projetos como o Vídeo nas Aldeias permitem que as comunidades contem suas próprias histórias. “Desde o início nos alinhamos politicamente, compartilhamos valores. Sempre foi um encontro criativo e Ernesto aprendeu a respeitar o tempo da comunidade. O tempo passa de forma diferente na aldeia, as pessoas vão e vêm, as conversas vão e vêm, e esta noção precisa ser entendida quando se tenta fazer filmes sobre o nosso povo.”

De estrear o filme em IDFA, Carvalho disse: “Nosso maior desejo é que o filme seja visto. No Brasil, existe uma coisa no cinema que significa que os filmes precisam ser vistos internacionalmente antes de terem a chance de serem vistos em casa. Por isso, estamos honrados por estar aqui e poder conectar nosso filme ao cenário documental internacional, mas é uma jornada focada no retorno ao lar.”

“Estar aqui também significa colocar o filme nessa discussão em curso sobre o formato do cinema hoje”, acrescentou Carvalho. “Este é um filme feito para cinemas, um reflexo da nossa inquietação com o cinema e um filme que não se esquiva à questão de como o podemos reinventar. Foi uma grande curva de aprendizado fazer o filme sob esse questionamento.”

“Estou emocionado com a chegada do filme e acho que isso servirá de inspiração para os jovens de meu país, como minha sobrinha e meu sobrinho, que estão seguindo meus passos”, disse Ortega. “Este é um filme feito numa aldeia e vivido nesta aldeia durante tanto tempo. É maravilhoso vê-lo começar sua jornada fora dele.”

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