Comunidade teve barracos incendiados em 2023, mas fez memória no coração de quem ali morou
Em meio às cinzas, registros da vida que deixaram de acontecer. Na pilha de roupas queimadas, brinquedos e lembranças. O que resiste da favela do Mandela após o incêndio de novembro de 2023 e a nova vida dos moradores são histórias construídas no cotidiano e que, como um rastro, continuam instruções no terreno para lembrar que o passado integra o presente.
Com a mudança dos moradores para conjuntos habitacionais prometidos pela Prefeitura de Campo Grande nos próximos anos, moradores que não tiveram os barracos atingidos e preferiram ficar no local até que as obras terminem, se alegram com a possibilidade esperada há 8 anos de deixar as tristezas para trás e construir novos sonhos em casas de alvenaria.
Parte do terreno onde 188 barracos foram feitos agora, para quem observa rapidamente, não passa de um buraco de terra e entulhos. Ali não houve guerras, mas os pertences foram deixados para trás para lembrar os cenários críticos vistos nelas.
A reportagem caminhou pelo que restou da comunidade. No chão, inúmeras roupas se misturam ao lixo e aos restos do que um dia foram casas improvisadas, feitas de madeirite, lonas e telhados metálicos. A presença de bonecas e bolas é marcante no local e se confunde com pilhas de roupas queimadas. Ursinhos, sapatos e garrafas também fazem parte da cena.
O Mandela fez a própria história e fez memória nos nossos corações. Tudo aqui foi um aprendizado. Vamos carregar esse nome. Vamos acabar com Mandela aqui e daqui pra frente levar só a mudança e coisas boas. A história fica com a gente, ela vai pra onde formos”, disse a líder da comunidade, Greiciele Naira Argilar Ferreira.
Para ela, a mudança será uma oportunidade para os moradores realizarem sonhos e acreditarem em um futuro menos desigual. “O Mandela foi um aprendizado agora vou concluir os meus sonhos na minha casa. Eles precisam curtir mais a vida e correr atrás do foco de cada um. As tristezas morrem aqui”.
Nos corredores das casas que ficavam em pé, madeiras colocadas na terra ajudavam o ir e vir nas vielas apertadas. Transitar na comunidade fica ainda mais complicado quando chove.
Para chegar à casa de Sandra Maria Pereira dos Reis, de 65 anos, é preciso passar pelo barro. Na casa simples de telhado metálico, um ventilador sem grau funciona para manter a temperatura suportável no lugar. Ela convida uma reportagem para entrar e contar sobre a esperança em deixar o local.
“Enquanto há esperança há vida. Ninguém merece ficar num lugar desse, quando chove então é pior ainda. O que queremos é sair daqui e ir para um lugar melhor e ter esperança de que vai continuar para onde formos”.
Conforme já publicado pelo Lado Bmoradores se apegam ao futuro positivo para esquecer as tristezas vívidas ali e conseguir seguir com a vida, agora em um novo endereço, mas que carrega o mesmo nome: Mandela.
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