Nos domingos passados, esta digníssima coluna já se estendeu aos montes sobre as razões pelas quais o AppleTV+ ainda não “pegou” enquanto serviço de streaming — isto é, ele existe e tem sua parcela razoável de assinantesmas até o momento não consegui entrar no fluxo da cultura pop como a Netflixpor exemplo, eleito de maneira incontestável.
Já falamos sobre como isso tem a ver com uma série de fatores, inclusive até mesmo uma certa estratégia por parte da Apple, e sobre o que isso significa para o futuro (a longo prazo) da Maçã no universo do audiovisual. Hoje, por outro lado, quero falar de outro assunto na mesma seara, porém mais, vamos, interno: o que diabos está acontecendo no Apple TV+ em 2024, hein?!
Inspirado por esse artigo do 9to5Macresolvi dar uma olhada nos principais lançamentos da Maçã nos primeiros semestres de 2023 e 2024. Também adicionei o Metascore de cada uma das produções — isto é, a nota média da crítica atribuída a cada uma delas segundo o agregador Metacrítico.
Se quisermos fazer uma comparação pela fria dureza dos números, uma média aritmética simples indica que, no primeiro semestre de 2023, os principais lançamentos do Apple TV+ foram recebidos uma nota média de 70,5. Pulando para o primeiro semestre de 2024 (e ignorando, naturalmente, quaisquer grandes produções que possam ser lançadas nas próximas cinco semanas), este número cai para 59,6 — suficiente para “amarelar” no Metacritic, que é o temido verbo usado para quando um filme ou uma série conquista uma nota inferior a 60.
Claro, você pode argumentar que estou sendo tendencioso: a primeira metade do ano passado também nos trouxe algumas bombas, como o filme “Fantasma” a série “Entre Estranhos”. Ainda assim, se olharmos para o cenário geral, é evidente que não há uma tendência de desaceleração no Apple TV+ — ao menos não que se diga respeito à capacidade de lançar filmes e séries aclamadas numa frequência específica.
Isso, naturalmente, é um problema. Como já falamos aqui diversas vezes, a Apple vem apostando desde o início numa estratégia de qualidade acima da quantidade — ou seja, em vez de emular o modo de operação da Netflix, com 50 lançamentos por semana e apenas 1-2 por mês que realmente valem a pena e geram repercussão, a Maçã prefere canalizar seus esforços para uma purificação mais criteriosa de talentos e produções, com maior respaldo da crítica e foco em um público mais, mais, seletivo. Se a recepção dessas produções é morna como tem sido ao longo dos últimos meses, o que resta para a Apple? Muito pouco.
Mas qual é o caso, então? O que está causando o marasmo no Apple TV+ neste primeiro semestre de 2024? Muitos poderão indicar rapidamente para as greves dos roteiristas e dos atores dos EUA, que causaram um abalo sísmico em toda a indústria hollywoodiana no ano passado e provocaram o adiamento e o cancelamento de uma série de produções.
Sim, é óbvio que a Apple foi afetada pelas greves, mas — para usar um jargão futebolístico — um gramado ruim é ruim para as duas equipes. Nesse mesmo período de turbulência, a Netflix conseguiu lançar “Bebê Rena”uma nova temporada de “Bridgerton”, “Donzela”, “Ó Astronauta”a sequência de “Lua Rebelde” e mais de 50 novas séries, temporadas, filmes ou documentários.
Grande parte deles — inclusive alguns dos citados na frase anterior — foram destruídos pela crítica especializada, mas, novamente, essa é a estratégia da Netflix, e ela continua funcionando perfeitamente. A da Apple, por outro lado, nem tanto — o que talvez comprove minha hipótese, de meses atrásde que a empresa poderia sofrer mais do que a média com as consequências da greve, por pura e simples falta de experiência no ramo do audiovisual.
Também há de se destacar que, ao longo do último ano, desacelerou-se bastante o ritmo das manchetes noticiando contratações de renome no Apple TV+. Foram-se os dias de Martin Scorsese, Ridley Scott, Joel Coen e Sofia Coppola; agora, o único nome da primeira vez que ainda tem uma produção a ser lançada no serviço da Maçã é Alfonso Cuaróncom sua vindoura minissérie “Isenção de responsabilidade”.
O fato é que, no momento, a Apple se vê numa espécie de limbo: nem com uma agenda de lançamentos interessante o suficiente para prender o público que preza por uma seleção mais cuidadosa, nem com uma estratégia de lançamentos mais frenética que apele para todos as faixas demográficas, chore moda nas redes sociais e movimento os fandoms para o serviço da Maçã. Por agora, a única tábua de salvação do Apple TV+ é… o seu preçoque — especialmente após as movimentações recentes da concorrência (Disney+ e Netflix) — segue significativamente mais baixo que a média, a R$ 21,90 por mês.
Vamos, portanto, aguardar as cenas dos próximos capítulos…
O Apple TV+ está disponível no app Apple TV em mais de 100 países e regiões, seja em iPhones, iPads, Apple TVs, Macs, smart TVs ou online — além também estar em aparelhos como Roku, Amazon Fire TV, Chromecast com Google TV, consoles PlayStation e Xbox. O serviço creme R$ 21,90 por mês, com um período de teste gratuito de sete dias. Por tempo limitado, quem comprar e ativar um novo iPhone, iPad, Apple TV, Mac ou iPod touch ganha três meses de Apple TV+. Ele também faz parte do pacote de assinaturas da empresa, o maçã um.
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