Filmado entre a direção de Alicia Vikander em “Firebrand” e Kristen Stewart em “Rosebushpruning”, “Motel Destino”, que estreia na Competição de Cannes no dia 22 de maio, pode ser visto como um retorno do agora mais internacional diretor do Brasil às suas raízes brasileiras.

Este eixo entre o internacional e o local, concretiza-se em “Motel Destino” e Aïnouz insiste, agora em toda a sua carreira.

Um thriller erótico, “Motel Destino” gira em torno de Dayana, a jovem esposa do dono de um hotel de sexo na estrada que seduz o pequeno mafioso fugitivo Heraldo para um ótimo sexo. Mas ela logo concebe a ideia de que ele a ajude a matar seu marido mais velho, terrivelmente abusivo.

“Eu estava realmente interessado em uma espécie de interpretação brasileira do melodrama e do cinema noir, em como pegar o gênero, que começa em Hollywood, e apropriar-se dele, torná-lo local e nosso”, conta Aïnouz. Variedade.

“Motel Destino” é melodrama “no sentido desses personagens que estão tentando sobreviver, de qualquer maneira”. Mas o filme também é “uma espécie de noir equatorial”, fornecido pelo “suspense, pelo elemento do crime”.

Portanto, a chave para a visão de Aïnouz sobre o mundo que ele criou é onde ele distorce o gênero, rompendo significativamente com sua inspiração. Isso afeta vários aspectos em “Motel Destino”, observa Aïnouz.

“Em vez de traduzir o suspense através de sombras e preto e branco, a cor era muito, muito importante. Queria também traduzir uma sensação de isolamento nesses personagens, o motel é um lugar muito isolado”, completa.

Em um drama policial ensolarado e fumegante, os contrastes permanecem no filme, mas desencadeados por seus rosas tropicais e céu azul água realçados pelas cortinas elétricas dos letreiros de néon do motel e um céu escuro como breu à noite.

Inspirado pelo Código Hayes, o gênero de Hollywood dos anos 50 era muitas vezes pudico em sua sexualidade. Não é “Motel Destino”.

“Algo que eu realmente queria trazer para o filme é uma sensação de sexo alegre e libertador. As cenas de sexo descobrem muito sobre nossos personagens. Há algo em um personagem que lhes escapa”, diz Aïnouz. “O sexo também é um lugar de revolução. Há algo na maneira como as pessoas se relacionam fisicamente e sexualmente. Há um sentimento de aliança, de ‘Podemos fazer isto juntos’”, acrescenta.

Produzido pelo selo Cinema Inflamável de Aïnouz, Gullane (“The Second Mother”) e Globo Filmes no Brasil com a Maneki Films na França e na Alemanha A fábrica de fósforosque cuida das vendas internacionais, “Motel Destino” é seu primeiro filme rodado inteiramente em seu estado natal, o Ceará, desde “Love For Sale”, de 2006.

Se isto for um regresso a casa, no entanto, em muitos aspectos, Aïnouz nunca partiu. “Motel Destino”, por exemplo, tem origem no Cena 15, laboratório de desenvolvimento cofundado por Aïnouz e pelos colegas cineastas Sergio Machado (“Cidade Baixa”) e Marcelo Gomes “Cinema, Aspirinas e Abutres”) em 2013 no Ceará capital Fortaleza, com o objetivo de impulsionar a economia criativa do Nordeste brasileiro.

Motel Destino

Wislan Esmeraldo, roteirista principal do filme, começou a pesquisar o tema do que viria a ser “Motel Destino” como parte de um grupo de trabalho, Núcleo Criativo, uma iniciativa federal, que explora temas relacionados ao crime, e coordenado por Aïnouz.

Ao todo, 11 ex-alunos do Cena 15 trabalharam em “Motel Destino”, desde a redação do roteiro até o departamento de arte, elenco e seleção de locações.

Ele vê “Motel Destino” como parte de um esforço para construir a cultura cinematográfica no Nordeste do Brasil? Aïnouz gosta da ideia. O “Motel Destino” ganhou originalmente financiamento governamental em 2017. Mas quando Jair Bolsonaro chegou ao poder, “os contratos não foram honrados. Nunca pensei que seria capaz de fazer isso. Com a eleição do Lula, o dinheiro foi disponibilizado mais uma vez e pudemos voltar a financiar.”

Então “Motel Destino” é um projeto de regresso a casa num outro sentido. “Não havia apenas ex-alunos, mas toda uma geração presente neste filme, principalmente na equipe: foi quase como: ‘Vamos recuperar o país que foi roubado.’ Havia quase como um exército de jovens. Algo sobre essa energia e vitalidade habita o filme.”

“Motel Destino” será exibido na Competição de Cannes apenas um ano depois de “Firebrand”. Não há contradição em se movimentar entre os mundos cinematográficos, diz ele. Muito pelo contrário, “eles alimentam-se uns dos outros”, diz Aïnouz.

“’Firebrand’ é um filme falado com sotaque brasileiro”, diz. “’Motel Destino’ é 1000% brasileiro, mas também vem da minha grande experiência no setor. É realmente um privilégio poder transitar entre os dois mundos. É exatamente o que eu gostaria de fazer pelo resto da minha vida.”

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