Retcon é uma palavra bastante usada pelos roteiristas de histórias em quadrinhos de super-heróis, especialmente na DC Comics e na Maravilha Histórias em quadrinhos. É o diminutivo de “continuidade retroativa”, que, basicamente, reformula ou adiciona eventos passados para atender uma necessidade atual do enredo. Vamos detalhar isso melhor e explicar as 13 variantes que costumam aparecer nas páginas do Universo Marvel e do Universo DC.
Outro dia falei para uma amiga que adorei a novela Verão 90, e ela ficou surpresa: “Como assim, virou noveleiro agora?”. Bem, respondi algo que as pessoas esqueceram: “Minha filha, eu acompanho há décadas histórias sobre personagens que são contadas em capítulos mensais; é, basicamente, como ler uma novela infinita”.
A grosso modo, é mais ou menos isso, a grande dificuldade da Marvel e da DC é manter uma cronologia coesa e consistente ao longo das várias mudanças no mundo e na sociedade. Ambas as editoras já sofreram mais com isso e foram obrigadas a vários reboots, que são a realização da reinicialização da linha temporal. O objetivo é sempre manter os leitores veteranos satisfeitos com os elementos clássicos de seus personagens favoritos e também atualizar os conceitos, tramas e motivações para cativar uma nova geração de fãs.
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Só que os reboots completos se mostraram insuficientes ao longo dos anos, e só funcionam quando há realmente uma passagem de era. As editoras aprenderam que é melhor atualizar tudo isso constantemente, e aí é que os retcons acabam sendo muito úteis.
A evolução do retcon
Em sua forma mais básica, um retcon é qualquer ponto da trama ou detalhe que não foi planejado desde o início, mas tratado como se sempre tivesse sido. Quando começou a ser aplicada nos quadrinhos de super-heróis, a continuidade retroativa não era bem vista pelos leitores, principalmente porque as editoras usavam o recurso em eventos caça-níqueis.
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Em Esquadrão All-Star #18, de 1983, a palavra foi usada pela primeira vez nos quadrinhos, embora seja muito mais antiga em outros meios. No início, essa técnica foi usada para introduzir novos elementos ou enredos, alterando seu contexto ou expandindo um cenário existente. Acontece que muitas vezes isso acontecia de forma um pouco plausível e violava a cronologia, prometendo mudanças substanciais, mas, no final atualizando uma ou outra coisa, para, depois voltar ao status quo semelhante de onde partiu.
Por exemplo, se fosse necessário introduzir um computador em vez de uma máquina de datilografar em uma redação de jornal de uma trama de quadrinhos, os autores promoveram um grande suspense sensacionalista, com a promessa de uma alteração capaz de abalar as estruturas de um universo. Só que, no final das contas, sempre houve uma reviravolta inverossímil que servia para fazer a troca desses elementos e colocar o resto de volta ao “normal”.
Mas, com o tempo — e a insatisfação de milhares de leitores, as editoras começaram a aplicar diversas formas de retcon, para que a continuidade retroativa possa fluir de forma mais dinâmica e natural. Isso vem ajudando a Marvel e a DC a atualizar suas histórias e personagens de forma consistente com os eventos e o comportamento dos heróis e vilões
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É como se fosse uma passagem de fase nas vidas das pessoas, com eventos desencadeando consequências que realmente dão a sensação de uma alteração significativa, ainda que os elementos básicos continuem presentes, fornecidos estofo para outros acontecimentos.
Alguns pesquisadores acreditam que o retcon acontece com mais frequência quando os eventos atuais contradizem a continuidade passada da série. Na maioria das vezes, isso não chega a violar o cânon, mas agride o conjunto de interpretações não declaradas feitas pelo público. Os escritores mais competentes conseguem aplicar a continuidade retroativa confiante em uma interpretação menos óbvia, mas ainda assim perfeitamente válida, do que foi visto anteriormente.
À medida que o número de reviravoltas e desvios em uma história aumenta, fica mais difícil dizer se um evento é realmente um retcon (o que implica que os escritores mudaram de ideia) ou um desvio (o que implica que os escritores pretendiam o “retconned “versão o tempo todo, e já havia enganado deliberadamente o público antes). Em alguns casos, é impossível dizer, a não ser ler a mente do autor (mesmo assim, pode não ajudar, pois é possível que um autor fique em dúvida sobre o que está planejando fazer).
13 variantes de retcon
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Para obter melhores resultados, as editoras passaram, então, a usar diferentes tipos de retcon, que se ajustam a cada situação e tornam a narrativa mais plausível, dinâmica e eficiente. Abaixo os 13 tipos mais encontrados nas últimas décadas, segundo o site TV Tropes.
Os nomes vou deixar em inglês mesmo, porque a tradução direta pode até acabar confundindo em alguns casos.
1. Desenvolvimento backportado: quando a caracterização de alguém em flashbacks é ajustada para parecer mais com seu “eu atual”;
2. Cânone Descontinuidade: eventos anteriores são tratados como se nunca aconteceram;
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3. Cerebus Retcon: um evento passado mais sério como parte de uma mudança para o drama;
4. Síndrome de Chuck Cunningham: um personagem desaparecido da narrativa sem explicação;
5. Rosnado de continuidade: em universos compartilhados que passam por mudanças em novas gerações de equipes criativas, os escritores contemporâneos estão menos apoiados a servilmente à consistência interna com enredos, eventos ou estilos visuais que foram escritos há 20, 30, 40 anos ou mais, especialmente quando essas histórias mais antigas estão desatualizadas conforme foram apresentadas originalmente;
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6. Retcon hediondo: Os crimes ou a personalidade de um vilão que retorna são reconfigurados para tornar os melhores/piores do que o originalmente previsto;
7. Retornar: Dizem que um personagem do universo não existe;
8. Revisão: Uma alteração de continuidade que não contradiz diretamente nenhum material anterior;
9. Reescrever: Um retcon que substitui abertamente os fatos da continuidade anterior;
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10. Retcon Orwelliano: Os eventos anteriores que contradizem a nova continuidade são reescritos;
11. Retcon Cósmico: Um evento na história altera a realidade, o que causa um retcon;
12. Reconjuração: Uma habilidade na história altera a realidade, o que causa um retcon;
13. Lembra do cara novo?: Um novo personagem é apresentado, mas é reconfigurado como parte da história o tempo todo.