Falta de mão de obra especializada fez lugar fechar as portas após 16 anos de história

Thiago após acidente que tirou o movimento das pernas (Foto: Arquivo pessoal)

“Pra mim é uma mistura de sentimentos, ao mesmo tempo que dá um nó na garganta ver os peixes indo embora, fico feliz porque eles estão indo para um bom lugar, acho que até que serão os melhores do que aqui”. A fala é de um dos proprietários do Aquário de bonito, Tiago Rodrigues Perez. Ele transformou o encantamento por peixes no primeiro e único benefício do município, mas precisou ver o sonho acabar após 16 anos de história.

No dia 31 de março, as portas do local que abrigava 70 espécies de peixes do bioma sul-mato-grossense, se fecharam para o público, e consequentemente, para Thiago. O motivo da decisão foi a mudança do alvará de funcionamento em 2019 e a falta de profissionais especializados.

Mil animais, entre pacus, piraputangas, tambaquis e cascudos foram doados ao Bioparque Pantanal, em Campo Grande. O transporte dos animais durou quatro dias.

Com funcionários sobrecarregados e diante do cenário, o empresário de 39 anos foi obrigado a colocar fim na paixão que carregava desde 1990. A ideia do expositor de peixes nasceu de uma visita ao controle de Ubatuba, litoral de São Paulo.

Primeiro prédio proprietário pelo empresário e o irmão, em 2007 (Foto: Arquivo pessoal)
Primeiro prédio proprietário pelo empresário e o irmão, em 2007 (Foto: Arquivo pessoal)

“Eu gosto muito de aquarismo, gosto muito de peixe, é uma coisa que é satisfatória. Nos anos 90 todo mundo tinha reservado, na época deu um “vagabundo” o aquarismo no Brasil, hoje está em queda livre. Eu tinha uns 13 anos. Um dia eu e meu irmão estivemos em Ubatuba e fomos visitar. Aí olhamos um para cara do outro e pensamos que um desses em bonito iria arrasar. Isso ficou na nossa cabeça”.

Em 2007 os irmãos finalmente colocaram a ideia na prática e abriram a primeira mudança da cidade. O prédio era pequeno e afastado do centro turístico. Anos depois, Thiago desfez a parceria com o irmão e firmou sociedade com um lojista, o negócio durou quatro anos. Em 2013 eles aprenderam uma sede própria, no coração de bonitopróximo à praça.

“No ano de 2019 minha licença que era de apicultura e ornamentação passou a ser confortável e zoológico. As demandas burocráticas e ambientais aumentaram muito e houve dificuldade de conseguir mão de obra especializada para fazer esse trabalho mais de técnico. Precisava de dois: um de biologia e outro veterinário e tinha que ser específico para zoológico, tinha que ter experiência também com documentação e prazos”.

Segundo imóvel proprietário de Thiago e sócio lojista (Foto: Arquivo pessoal)
Segundo imóvel proprietário de Thiago e sócio lojista (Foto: Arquivo pessoal)

Acidente – O trabalho de Thiago mudou significativamente após o acidente que deixou o empresário tetraplégico, em 2015. A ruptura no ritmo de atuação no Aquário aconteceu em Montese, distrito de Itaporã. Ele participou de uma corrida de velocross quando caiu e cortou a quarta vértebra do pescoço. Apesar da nova realidade, Thiago afirma não carregar traumas do episódio e acrescenta que isso o deixou ainda mais apaixonado pelo aquarismo.

“Foi uma fatalidade, acontece, eu assisti a corrida. O hobby continua só que de um outro jeito. Tem gente que escorrega e bate a cabeça e morre. Depois do acidente passei a ficar mais concentrado no Aquário. Comecei a coordenar, antes de metia muito a mão na massa, era muito desgastante”.

Thiago durante competições de velocross (Foto: Arquivo pessoal)
Thiago durante competições de velocross (Foto: Arquivo pessoal)

Não tempo áureos, o empresário chegou a ter até 12 pessoas trabalhando no Aquário, hoje ele fechou as portas com sete. O número veio após a pandemia de covid-19, que além de encarecer as entradas, impediu os funcionários. O apego a alguns dos animais presentes nos 32 tanques e três lagos é o motivo do lamento pela despedida, mas também o rompimento em saber que eles continuam sendo bem tratados.

Estudantes da escola municipal de Bonito visitando Aquário (Foto: Arquivo pessoal)
Estudantes da escola municipal de Bonito visitando Aquário (Foto: Arquivo pessoal)

“Tem peixe que estava aqui há mais de 14 anos, são mais velhos que minha filha. As pessoas têm a impressão de que os peixes são substituídos, mas a realidade é que eles vivem muito, quando cuidado certo. Os peixes maiores, no caso. Fechei também porque chegou uma hora que a melhor decisão era essa, fechar enquanto estava tudo certo, e estávamos bem”.

No Google, a avaliação do Aquário de bonito era 4,6. Alguns dos comentários dos visitantes falam sobre a presença de peixes do bioma e a explicação das guias. Um dos destaques da pesquisa nas postagens é a alimentação das piraputangas. Thiago explica que esse era um dos momentos mais legais do passeio.

“Antes colocava um salgadinho na ponta da varinha e o pula e peixe. Agora não é mais permitido, então a gente lá fazia com uma ração específica e o peixe pulava para pegar. Já atendemos mais de 3 mil alunos gratuitamente também, eles gostaram”.

Sede própria do Aquário, local inaugurado em 2013 (Foto: Arquivo pessoal)
Sede própria do Aquário, local inaugurado em 2013 (Foto: Arquivo pessoal)

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