Ouça o nome “Rio de Janeiro” e entre as primeiras palavras que lhe virão à mente estará Ipanema, o famoso bairro no coração da Cidade Maravilhosa — e sua igualmente famosa praia. Tendo cultivado status de ícone ao longo da história moderna do Rio de Janeiro, a Praia de Ipanema é uma das faixas de areia mais famosas de todo o Brasil.

Para comemorar o lançamento de seu último livro, Melhores Praias: 100 das Praias Mais Incríveis do Mundo, o guia de viagens global Lonely Planet divulgou uma lista das 20 melhores praias do planeta, colocando a Praia de Ipanema em segundo lugar, fazendo referência ao “Pôr do sol surpreendente que os moradores locais frequentemente aplaudem.”

Na verdade, a sua posição privilegiada, situada entre o Leblon e Copacabana, de costas para a lagoa Rodrigo de Freitas, e a leste das impressionantes colinas gémeas do Morro Dois Irmãos, proporciona-lhe algumas das mais impressionantes vistas do pôr-do-sol numa cidade já visualmente cativante.

“Faz muito sentido que a Praia de Ipanema esteja entre as melhores do mundo”, diz Marcelo Freixo, chefe da Embratur, agência de turismo do Brasil, em conversa com O Relatório Brasileiro. “É uma praia urbana encantadora, com belezas naturais inacreditáveis, areias brancas, águas agradáveis, pôr do sol emocionante e uma paisagem deslumbrante com montanhas ao redor. Só isso já tornaria a praia num local popular para turistas, mas também é conhecida pelo seu ambiente animado e pelo grande respeito pela diversidade, tornando-a num local agradável e seguro para pessoas de todas as idades.”

O posto sistema

Do Leme até o final do Leblon, as famosas praias da zona sul do Rio de Janeiro são divididas em postos, que se referem literalmente aos postos municipais de primeiros socorros espalhados pela areia. Na prática, esses postos servem como pontos de referência para encontros e entregas de carros, mas em Ipanema também dividem a praia em diferentes ambientes, multidões e atividades.

A faixa de areia começa no Posto 7, no vizinho surf spot da Praia do Arpoador. O Posto 8 marca o início oficial da Praia de Ipanema e, por estar a apenas uma quadra da estação do metrô, é o ponto de encontro preferido de grupos de crianças que chegam de outros pontos da cidade.

Multidão de pessoas curtindo lindo pôr do sol e golden hour na praia de Ipanema e Arpoador.  Foto: César Lima/Shutterstock
Multidão de pessoas curtindo lindo pôr do sol e golden hour na praia de Ipanema e Arpoador. Foto: César Lima/Shutterstock

O Posto 9, por sua vez, é o trecho mais famoso de Ipanema, sempre frequentado principalmente por um público jovem e descolado, mas também por famílias e uma mistura geral de grupos e culturas. A sua localização, mesmo em plena praia, confere-lhe as melhores vistas sobre a paisagem envolvente.

No meio do 8 e 9 (às vezes chamado de Posto 8.5) fica sem dúvida o ponto de encontro de praia LGBT mais famoso do Brasil, perpendicular à Rua Farme de Amoêdo.

Mas se você quer conhecer aquelas cenas famosas de brasileiros jogando tênis de praia, vôlei ou futebol (ou futvôleiuma mistura dos dois), o Posto 10 de Ipanema é onde você precisa estar.

Da areia ao chique

Durante a maior parte da história do Rio de Janeiro, Ipanema e seus vizinhos Copacabana e Leblon foram negligenciados como terrenos desertos e cobertos de areia. Na verdade, foi apenas no início do século XX que a então capital do Brasil começou a expandir-se para o que hoje é conhecido como Zona Sul.

Naquela época, o proprietário da então vila de Ipanema era José Antônio Moreira Filho, empresário do interior paulista que se tornara Barão de Ipanema em meados do século XIX.

Ipanema, em suas raízes linguísticas indígenas Tupi-Guarani, poderia ser interpretado e traduzido como “água inútil” ou “rio fedorento”. A água em questão, porém, refere-se ao rio Ipanema, no interior de São Paulo, e não à mundialmente famosa praia.

O crescimento de Ipanema e da Zona Sul do Rio de Janeiro como um todo começou com a inauguração, em 1892, do Túnel Real Grandeza (hoje conhecido como Túnel Velho, ou Túnel Velho), que escavava os morros para ligar o tradicional bairro de Botafogo ao que era então a nascente região de Copacabana.

Graças à topografia improvável e única do Rio de Janeiro, perfurar um túnel através dos morros seria a única maneira de expandir o famoso sistema de bondes da cidade para o sul pouco explorado. A primeira linha de bonde chegou a Ipanema em 1902, dando início a um processo imparável de especulação imobiliária e crescimento populacional.

O nascimento da bossa nova

Ipanema continuou a crescer e a se tornar uma das partes mais ricas da capital do Brasil, substituindo suas casas baixas por blocos de apartamentos para acomodar a classe média rica que desejava fazer do bairro seu lar. Mas Ipanema só entraria na consciência nacional no final dos anos 1950 e início dos anos 1960, graças ao nascimento do estilo musical brasileiro por excelência do século XX, a bossa nova.

Frequentemente descrita como uma fusão de samba e jazz, a bossa nova surgiu como resultado da cena social da classe média alta na zona sul do Rio de Janeiro, especialmente em Copacabana e Ipanema. Jovens músicos e estudantes se uniram e desenvolveram essa “nova batida” do samba, despojando todos os instrumentos até ficarem apenas com violões clássicos de cordas de náilon e vocalistas de fala mansa.

E a razão da fama mundial de Ipanema tem tudo a ver com a bossa nova. Em 1962, a dupla de compositores Antônio Carlos “Tom” Jobim e Vinicius de Moraes estava certa tarde sentado na calçada do Bar Veloso, a apenas uma quadra das areias de Ipanema. Eles viram uma adolescente alta e bronzeada, Helô Pinheiro, passar a caminho da praia e compor aquela que se tornaria uma das músicas mais famosas de todos os tempos.

A Garota de Ipanema (originalmente Garota de Ipanema) tornou-se um sucesso mundial, sendo gravado em português e inglês por inúmeros artistas desde seu lançamento original.

Segundo a história, o compositor americano Normal Gimbel, que traduziu a letra para o inglês, quis retirar qualquer referência a Ipanema da música, acreditando que sua menção não teria sentido para o público norte-americano. Tom Jobim, no entanto, insistiu para que permanecessem – e é potencialmente por isso que o bairro e sua praia homônima são hoje conhecidos em todo o mundo.

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