Dia Municipal do Preto Velho, contra intolerância religiosa, foi aprovado na Câmara e aguarda ser sancionado

Registro feito durante revitalização da praça em 2021. (Foto: Arquivo/Marcos Maluf)

“Se o Preto Velho fosse um Branco Velho, nós já teríamos sido aceitos há muito tempo”. Essa é uma provocação do guardião da praça que leva o nome da figura ancestral em Campo Grande, José Luiz Mendes de Castilho. Aprovado pela Câmara Municipal na semana passada, o Dia Municipal do Preto Velho (13 de maio) aguarda ser sancionado e, para quem sofre com intolerância religiosa diariamente, a data é mais uma chance de falar sobre a luta histórica.

Integrante do Fórum Municipal da Cultura Afro e vice-presidente do Instituto Cultural da Umbanda Sagrada Vó Ana e Pai Manoel, José explica que ouvir que o Preto Velho é o “demônio” é algo comum, assim como replicar isso a quem segue religiões em geral de matriz africana.

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É implantado na mente das pessoas que somos demoníacos, que somente a religião de quais dessas pessoas pertencem é a que vai de encontro com o Pai e todos nós sabemos que não é desta forma que as coisas acontecem, descrevendo o guardião da praça, que já até recebeu movimento pelos seus serviços no local.

Não sei que o Preto Velho ou os Pretos Velhos são espíritos que se apresentam como africanos que viveram nas senzalas e sofreram como escravos é parte do desconhecimento generalizado com religiões de matriz africana. Para José, é essa falta de saber o que costuma dar base aos ataques.

E é com razão que os Pretos Velhos se ligam à escravidão que o seu dia é celebrado em 13 de maio, a data da abolição da escravatura. “Inserirmos esses dados no calendário municipal nos fortalece muito no sentido de respeito porque temos que preservar a memória daqueles que sofreram e ainda sofrem com o racismo”.

Em comentário nas redes sociais, o pedido por um "Branco Velho"  aparece.  (Foto: Reprodução/Facebook)
Em comentário nas redes sociais, aparece o pedido por um “Branco Velho”. (Foto: Reprodução/Facebook)

O membro do Fórum de Cultura Afro também defende que aceitar todos os tipos de pessoas é algo que acaba sendo mal visto por membros de outras religiões.

“Nós não discriminamos ninguém, aceitamos a pessoa como ela é. Se procurar fazer o bem e auxiliar o próximo faz nós sermos religiões do demônio, então é complicado. O difícil é colocar na cabeça das pessoas que elas precisam conhecer um pouco das religiões e, aí sim, talvez comecem a ter outras visões”, diz José.

Festa com louvor a exu e pombagira foi ação em novembro de 2023. (Foto: Arquivo/Juliano Almeida)
Festa com louvor a exu e pombagira foi ação em novembro de 2023. (Foto: Arquivo/Juliano Almeida)

Enquanto isso não acontece, até pedidos de retirada da estátua do Preto Velho aparecem, segundo o umbandista. Além dos dados, há também uma entrega para solicitar o tombamento do local.

Especificamente sobre a praça, ele relata que é o único local em que as religiões de matriz africana e ameríndias podem se manifestar publicamente. “É por isso que ela precisa estar preservada e sempre pronta para receber as pessoas”.

Agora, enquanto a data municipal ainda não foi sancionada, a celebração será no dia 19 de maio, a partir das 13h, na Praça do Preto Velho.

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