O Primeiro Empretec Indígena do país aconteceu aqui em MS, com 126 pessoas da aldeia

Mulheres indígenas Ofayés, de Brasilândia, expõem seus artesanatos (Foto: Bruno Rezende/Governo de MS)

Criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) e presente em 40 países, o Empretec é o principal programa de formação de empreendedores no mundo e acaba de realizar o primeiro trabalho específico para os povos indígenas. Os contemplados foram as 126 pessoas das últimas 32 famílias de ayés, que vivem em uma área de 2,4 mil hectares, próximo ao município de Brasilândia – a 366 km da Capital.

O principal objetivo da metodologia do programa é o desenvolvimento de características de comportamento empreendedor, além da identificação de novas oportunidades de negócios. Com isso, foi apresentado à comunidade o poder transformador que o artesanato produzido por eles pode trazer para todos ali.

Trabalhos com artesanato ressurgiram na comunidade em 2010, através de cursos que ensinaram às mulheres o transporte o desenho da memória para o tecido. Até então, a história da etnia vinha sendo passada para a arte apenas através do arco e flecha, como lembra a vice-cacique Ramona Coimbra Pereira, de 40 anos.

“As outras coisas não temos mais, se perderam. Quando esse projeto para a aldeia veio, foi de alguma forma revitalizar a história do povo. Quando foram embora para outra terra, os animais ficaram para trás, e isso daqui veio para trazer. Um dia, uma delas me falou que era importante desenhar os animais, ‘porque vai que um dia a gente perde de novo’”, diz Ramona.

O povo Ofayé era estimado em mais de 2 mil pessoas, mas foram massacrados e retirados do território tradicional, em meados dos anos de 1960, e levados para a região de Bodoquena. Naquelas terras não conseguidas se adaptaram e procuraram um novo lar, foi aí que se fixaram na Brasilândia e desde então resistiram.

Marcelo Lins, cacique da comunidade Ofayé Anodhi, conta que muitos morreram nesse percurso. Eles precisaram sobreviver na beira das estradas, fizeram acampamentos e a batalha quase apagou suas origens. Agora toda ancestralidade pode ser transmitida através do artesanato.

“Em 2011, nós juntamos um grupo de 20 mulheres, encabeçado por minha mãe, dona Neuza, que é anciã, e aí começou a fazer e a pensar que hoje, no mundo que nós vivemos, o massacre que nós vivemos, perdemos a vida e perdemos a natureza, não temos mais os preparos de fazer o arco e flecha, de fazer os nossos colares. Começou a sair para a cidade do município, depois foi para outra cidade, depois foi para o estado, depois cruzou a fronteira do nosso Brasil, chegou a ir para a Espanha, Canadá, o nosso artesanato”, relata o cacique.

Anciã Neuza da Silva, 64 anos, da aldeia Ofayé em Brasilândia (Foto: Bruno Rezende/Governo do MS)
Anciã Neuza da Silva, 64 anos, da aldeia Ofayé em Brasilândia (Foto: Bruno Rezende/Governo do MS)

Aos 64 anos, a anciã Neuza da Silva se orgulha da história do seu povo e da história que transmite pelo artesanato. “Meu sonho é ver meus filhos, meus netos, aprender também, né? É uma oportunidade. A gente não tinha nada, ninguém nos conhecia, nada. Agora vem bastante gente aqui passear, comprar, que a gente faz”, compartilha.

Em números, Mato Grosso do Sul, segundo o IBGE, é o terceiro estado com maior população indígena do país. São 116 mil habitantes indígenas, que estão presentes em todos os 79 municípios, e pertencem a oito etnias, a menor delas é a dos ofayés. O Sebrae/MS é responsável pela aplicação do Empretec, que conseguiu levar a metodologia com apoio da Prefeitura e da Secretaria de Estado da Cidadania.

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